Nova Iorque, 27 de agosto de 2025 — Antecipando o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, a 30 de agosto, o Comité para a Proteção dos Jornalistas e o capítulo moçambicano do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA Moçambique) apelam às autoridades para que forneçam respostas credíveis sobre o paradeiro de dois jornalistas, Ibraimo Abú Mbaruco e Arlindo Chissale, ambos desaparecidos em circunstâncias semelhantes na região em conflito de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique.
Mbaruco, repórter e apresentador de notícias da Rádio Comunitária de Palma, foi visto pela última vez a sair do seu escritório em 7 de abril de 2020, por volta das 18h. Pouco depois, enviou uma mensagem de texto a um colega dizendo que estava «cercado por soldados».
Em 7 de janeiro de 2025, Chissale, editor do site Pinnacle News, estava na aldeia de Silva Macua quando um grupo de oito homens, alguns vestidos com uniformes das Forças de Defesa e Segurança Nationais, lhe ordenou que saísse de um miniautocarro público. Desde então, não se sabe nada sobre ele.
«As famílias dos jornalistas Ibraimo Abù Mbaruco e Arlindo Chissale estão devastadas com o desaparecimento dos seus familiares e com a incapacidade do governo de investigar devidamente os seus casos. A sugestão de cumplicidade militar é mais um sinal condenatório de que Moçambique não é um país seguro para jornalistas», afirmou Angela Quintal, diretora regional do CPJ para África. «O governo do presidente Daniel Chapo deve fornecer respostas sobre o paradeiro de Mbaruco e Chissale, como parte de um esforço mais amplo para tranquilizar os jornalistas moçambicanos quanto à sua segurança e liberdade.»
«É estranho e não faz sentido que o desaparecimento de um jornalista tenha sido arquivado sem esgotar todas as linhas de investigação técnica e independente. Esta decisão revela a falta de interesse do Estado moçambicano em esclarecer crimes contra jornalistas, incluindo o caso de Arlindo Chissale, sobre o qual, após oito meses, as autoridades permanecem em silêncio e indiferentes», afirmou Ernesto Nhanale, diretor executivo do MISA Moçambique.
Nos dias que se seguiram ao desaparecimento de Mbaruco, a família e os colegas enviaram-lhe repetidamente mensagens de texto e tentaram ligar para o seu telemóvel, mas este estava desligado. O telemóvel de Mbaruco foi ligado novamente em 8 de junho de 2020, de acordo com o MISA Moçambique. A organização informou as autoridades sobre este desenvolvimento e apelou-lhes para que utilizassem tecnologia de geolocalização para rastrear os movimentos do jornalista.
Um agente da polícia, que falou sob condição de anonimato, disse ao MISA Moçambique que os soldados levaram Mbaruco para Mueda, uma cidade a cerca de 300 quilómetros (186 milhas) de Palma, para interrogatório.
Quanto a Chissale, ele recebeu uma dica de que estava em risco e numa «lista de alvos a abater» oficial horas antes do seu desaparecimento. Nos meses que antecederam o seu desaparecimento, ele publicou comentários políticos sobre as contestadas eleições de outubro de 2024 em Moçambique, expressando notavelmente apoio à oposição e acusando o partido governante Frelimo de fraude eleitoral. O CPJ e o MISA Moçambique documentaram significativas violações da liberdade de imprensa durante a crise pós-eleitoral.
Chissale já tinha enfrentado ameaças e assédio relacionados com o seu trabalho anteriormente. Em novembro de 2022, foi preso e detido durante seis dias, inicialmente acusado de terrorismo, mas posteriormente acusado de trabalhar sem acreditação jornalística.
Cabo Delgado tem sido palco de uma insurgência ligada ao Estado Islâmico desde 2017. O CPJ e o MISA Moçambique têm documentado assédio e prisões de jornalistas enquanto operam na região.
Durante uma visita em fevereiro à cidade moçambicana de Pemba, o presidente Chapo apelou aos jornalistas para que «continuassem a fazer o seu trabalho com excelência».
Numa carta enviada ao presidente em março, o CPJ afirmou que seria «difícil» para os repórteres cumprir a diretiva presidencial enquanto houver um ambiente de medo e o seu governo não tomar «medidas significativas para investigar e responsabilizar os responsáveis pelo desaparecimento dos jornalistas Ibraimo Mbaruco e Arlindo Chissale».
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Sobre o Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA)
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