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Celebra-se hoje, 11 de Abril, o Dia do Jornalista Moçambicano, data que marca também os 47 anos de existência do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ). Sob o lema “SNJ: 47 anos celebrando a coragem, compromisso e profissionalismo dos jornalistas”, a efeméride ocorre num momento de grande tensão para a imprensa no país, uma altura em que ser jornalista exige, mais do que nunca, coragem para enfrentar a repressão, a censura e a precariedade. Nos últimos tempos, os profissionais da comunicação têm enfrentado barreiras crescentes no exercício da sua função. Um exemplo claro foi o contexto eleitoral vivido recentemente, marcado por repressão violenta a manifestações, intimidação de cidadãos e obstáculos à liberdade de expressão. O caso do jovem repórter Strip Pedrito, da SPM TV, ilustra bem esse ambiente hostil.
Em Dezembro passado, durante o funeral do blogueiro Mano Shottas, em Ressano Garcia, o jornalista foi baleado no braço por agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) enquanto fazia uma transmissão ao vivo. “Tudo começou quando a Polícia atirou contra a população. Nessa altura, todos começaram a correr em busca de abrigo para se proteger das balas. Foi assim que entrei numa residência acompanhado por outros jovens e me refugiei na cozinha da casa”.
Mesmo fora do epicentro do conflito, acabou por ser atingido. Sem assistência médica local, teve de atravessar a fronteira em busca de tratamento num hospital sul-africano. “Meus colegas tentaram me socorrer e me levar ao hospital, solicitaram ambulância. No entanto, o hospital informou que todas as vias de acesso haviam sido bloqueadas pelos agentes da UIR e que as ambulâncias não tinham como circular. Não tínhamos outra alternativa, atravessámos a fronteira e procurámos ajuda médica na África do Sul”.
Outro episódio marcante ocorreu com a repórter da TV Glória Stela Neves, que teve uma experiência que descreve como um verdadeiro choque com a realidade da profissão. “Foi uma experiência nova para mim, primeiro porque foi a primeira vez que tive a oportunidade de cobrir uma matéria daquele fórum. Saí da formação sabendo e conhecendo a lei que defende o jornalista nas coberturas, e foi um choque presenciar aquela realidade”.
A repórter relatou que cobria as manifestações, junto a outros colegas, ao longo da Avenida Joaquim Chissano, quando foi surpreendida com disparos de gás lacrimogéneo. “Mais de quatro agentes da UIR vinham em nossa direcção com disparos. Tive que gritar ‘somos imprensa’ para que eles parassem”.
Para além da violência, outro aspecto que preocupa a classe jornalística é a precariedade das condições laborais, como a ausência de vínculos contratuais, a baixa remuneração e a falta de segurança social. Esses factores agravam ainda mais os riscos do ofício e contribuem para um ambiente de fragilidade profissional.
Nesse contexto, o Secretário-Geral do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), Faruco Sadique, destacou as limitações materiais e financeiras enfrentadas pelos profissionais da comunicação social. “Num período difícil como este que estamos a passar, cabe, por conseguinte, aos próprios profissionais saberem posicionar-se em cada momento da sua actividade, não cedendo a pressões provenientes dos mais variados grupos de interesses que caracterizam a sociedade e trabalhando sempre em prol da verdade dos factos.”
Numa mensagem por ocasião do Dia do Jornalista Moçambicano, Sadique sublinhou a resiliência da classe, que se mantém firme na defesa da verdade e da ética jornalística. A organização sindical exorta os profissionais a resistirem a pressões externas, manterem a integridade e reforçarem o sentido de missão numa conjuntura que exige cada vez mais coragem e responsabilidade.
“Apesar das condições adversas em que trabalhamos, podemos afirmar categoricamente que os jornalistas moçambicanos, de um modo geral, são verdadeiros heróis anónimos. São eles os que, apesar das muitas limitações ao exercício do seu trabalho, no seu dia-a-dia, nas noites frias e de chuva, nos dias quentes e de sol escaldante, nos locais mais remotos do país, mantêm o país informado, unido e sempre focado no progresso e desenvolvimento socioeconómico, político e cultural, obviamente, sob a umbrela da política editorial do respectivo órgão de informação.”
A mensagem também reservou uma saudação especial às mulheres jornalistas, que se têm destacado cada vez mais nas redacções e na produção de conteúdos em rádio e televisão, superando barreiras históricas e afirmando-se como protagonistas no cenário mediático nacional.