Celebrou-se, na passada sexta-feira, 21 de Fevereiro, o Dia Internacional da Língua Materna, uma data instituída em 1999 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para promover a diversidade linguística e o multilinguismo como ferramentas essenciais para o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. A data surgiu em resposta à crescente ameaça de desaparecimento de línguas em diversas partes do mundo, comprometendo não apenas a identidade cultural de comunidades inteiras, mas também o acesso ao conhecimento e à educação de milhões de pessoas.
Em Moçambique, onde coexistem mais de 20 línguas bantu faladas por diferentes grupos étnicos, o desafio da preservação linguística é especialmente relevante. Apesar de o português ser a língua oficial e predominante no ensino e na administração pública, a maioria da população moçambicana se comunica, diariamente, nas línguas locais. O Relatório Mundial da UNESCO sobre Diversidade Linguística (2022) aponta que aproximadamente 40% das 7.000 línguas faladas, globalmente, estão em risco de extinção. O documento alerta que a predominância de idiomas globais sobre as línguas locais, especialmente nos sistemas educacionais e meios de comunicação, agrava esse cenário e gera impactos negativos no aprendizado. Crianças que não têm acesso à educação em sua língua materna enfrentam mais dificuldades na escola, o que contribui para altas taxas de abandono escolar.
Para mitigar este problema, a UNESCO recomenda a adopção de políticas de ensino bilíngue e multilíngue, permitindo que os estudantes aprendam primeiro na sua língua materna e, posteriormente, desenvolvam competências em outros idiomas. Em Moçambique, a Estratégia Nacional de Educação Bilíngue, lançada em 2003, busca implementar essa abordagem, mas enfrenta desafios na sua plena execução.
Usar línguas locais é garantir inclusão
No âmbito das comemorações da data, a Universidade Eduardo Mondlane, em parceria com a Uni-Rovuma e a Universidade Pedagógica de Maputo, realizou, na passada sexta-feira, em Maputo, a XI Oficina de Linguística, Literatura e Educação. O evento assinalou os 25 anos do Dia Internacional da Língua Materna e reforçou a importância da preservação linguística no país. Durante a cerimónia, o reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, Jorge Ferrão, destacou a necessidade de sensibilizar as instituições de ensino e a sociedade sobre a valorização das línguas maternas, promoção do multilinguismo e a preservação da diversidade cultural.
O evento contou ainda com a presença do ex-presidente da República, Armando Guebuza que, na ocasião, destacou a importância da valorização das línguas maternas, em Moçambique. Para Guebuza, a língua é um dos pilares fundamentais para a preservação da identidade cultural e para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Por sua vez, a representante da UNESCO, Ofélia da Silva, sublinhou que o 25º aniversário do Dia Internacional da Língua Materna, que se assinala em 2025, é um marco significativo para reflectir sobre as conquistas alcançadas e renovar compromissos em prol da preservação das línguas maternas. Segundo a representante da UNESCO, garantir o direito de cada indivíduo de aprender e se expressar na sua língua é essencial para sociedades mais inclusivas e equitativas.
A UNESCO reforça que a língua materna é um elemento essencial na construção de sociedades mais justas, pois garante o acesso à informação, aos serviços públicos e ao conhecimento de maneira eficaz. Para isso, a organização recomenda que os governos invistam em políticas de inclusão linguística, assegurando que todas as línguas tenham espaço e reconhecimento na sociedade. No contexto do Dia Internacional da Língua Materna, a necessidade de promover a diversidade linguística e fortalecer o ensino na língua de origem torna-se cada vez mais urgente, garantindo que o património cultural e identitário dos povos seja preservado para as futuras gerações.
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