Moçambique continuam a enfrentar desafios significantes no que diz respeito ao acesso e distribuição do livro infantil. Outra questão, esta relacionada às dificuldades que os escritores de literatura infantil enfrentam para publicar e colocar à disposição as suas publicações. No Dia Internacional do Livro Infantil, celebrado anualmente a 2 de abril, O HUB conversou com actores que lidam directamente com este tema e que convidam à reflexão sobre o impacto dos livros na vida das crianças moçambicanas.
O escritor moçambicano Pedro Pereira Lopes, relata que sua motivação para escrever livros infantis surgiu da crença no poder da literatura de moldar mentes jovens e inspirar um mundo melhor. “Nos meus livros para crianças, escrevo sobre amor, coragem, inteligência, meio-ambiente, abandono familiar e vários assuntos de interesse social. Eu diria que o que escrevo é para despertar a imaginação, incutir valores relevantes e incentivar a compreensão do mundo que nos cerca”.
Embora a literatura infantil tenha grande potencial, a fonte destaca que a realidade do acesso aos livros em Moçambique é desafiadora: “É difícil falar em interesse num país em que no geral, o livro não circula e a maioria das livrarias está em Maputo. É claro que existem projectos de leitura em escolas, bibliotecas comunitárias e clubes de livros, mas ainda é pouco para despertar o interesse das crianças pelos livros em larga escala.”
Publicar e distribuir livros em Moçambique é um grande desafio devido aos altos custos de produção e à falta de uma infraestrutura adequada. “Não temos um parque gráfico competitivo e as livrarias são escassas. Em algumas províncias, como Niassa e Inhambane, não há sequer uma livraria”, lamenta o escritor.
O autor destaca ainda a importância de medidas que estimulem o hábito de leitura em crianças, “A criação de livrarias municipais subsidiadas e o fortalecimento das bibliotecas são medidas urgentes. Precisamos democratizar o acesso aos livros e estimular a leitura dentro das famílias e escolas“.
Por sua vez, Rute Chau, professora numa escola primaria na Matola, reforça essas dificuldades e explica que o principal obstáculo para as crianças reside na insuficiência de livros adequados. “Algumas crianças demonstram entusiasmo quando os livros lhes são apresentados de forma interativa, mas muitas enfrentam barreiras devido à falta de materiais adequados e ao pouco incentivo no ambiente familiar, e os métodos tradicionais de ensino nem sempre favorecem o gosto pela leitura”.
A professora destaca que a falta de livros em línguas locais também prejudica o desempenho escolar das crianças. “A ausência de livros em línguas locais representa um entrave ao processo de aprendizagem, dado que muitas crianças ingressam no sistema de ensino com um domínio mais sólido da sua língua materna do que do português. Esta limitação compromete a compreensão dos conteúdos curriculares e dificulta a aquisição do hábito de leitura, refletindo-se negativamente no desempenho escolar.”
Rute Chau, afirma que projetos como clubes de leitura são fundamentais para incentivar o gosto pela leitura por parte dos petizes. “Na escola onde leciono, criamos um clube de leitura com escritores de livros infantis e outras personalidades do sector da educação. Isso tem um impacto positivo, pois melhora a leitura e a comunicação das crianças”.
A professora reforça a importância dos pais neste processo: “Ler para os filhos, contar histórias e criar um ambiente de leitura em casa são estratégias eficazes para formar leitores desde a infância”.
O Dia Internacional do Livro Infantil deve ser um momento de reflexão sobre a importância da literatura na infância e a necessidade de tornar os livros acessíveis para todas as crianças moçambicanas. A literatura pode ser uma ferramenta poderosa para transformar vidas, mas isso exige um compromisso coletivo de escritores, educadores, famílias e políticas públicas eficazes.