Em Moçambique, milhares de crianças enfrentam a dura realidade das ruas, vítimas de
violência doméstica, pobreza extrema, exploração sexual, trabalho infantil e falta de
acesso à educação.
No país, particularmente em Maputo, é comum ver crianças deambulando pelas ruas sem
destino, muitas vezes expostas a doenças e insegurança, sobretudo no inverno. Muitas
abandonam suas casas devido a maus-tratos e buscam nas ruas uma forma de
sobrevivência. Além disso, a falta de políticas públicas eficazes e a escassez de recursos
dificultam a reintegração dessas crianças na sociedade.
Este é o caso de Rafael António de 10 anos de idade que conta a sua história: “Eu vim
parar aqui na rua por causa do meu pai. Ele me batia por qualquer coisa, então cansei
e fugi, e a agora vivo pedindo esmolas.”
“A vida aqui na rua não é fácil. Passamos frio, fome, e temos medo de ser violentados. O
queríamos é só um lugar seguro pra dormir e estudar.” conta Jonas, de 13 anos, amigo
de Rafael.
O Projecto “Aprenda”: Uma Luz na Escuridão
Há três anos Alimo Uirissone, jovem estudante universitário na cidade de Nampula,
fundou o projecto “Aprenda”, através do qual ensina crianças e adolescentes em situação
de rua a ler, escrever e contar, com o objectivo de oferecer educação e capacitação
profissional com recursos próprios e apoio da Direcção Provincial do Género, Criança e
Acção Social de Nampula (DPGCAS).
Alimo Uirissone, o mentor do projecto “Aprenda” em entrevista disse: “Acredito que a
verdadeira transformação começa quando oferecemos às crianças não apenas
educação, mas também habilidades práticas que as capacitem a construir um futuro
digno.”
Apesar das dificuldades e falta de apoio institucional, Uirissone permanece firme na sua
missão de tirar crianças das ruas e oferecer-lhes um futuro melhor.
A Resposta do Governo e Organizações Locais.
O Sector que tutela a área da criança e acção social em Nampula tem sido um parceiro
fundamental no apoio a iniciativas como o projecto “Aprenda”, fornecendo recursos e
facilitando a legalização do projecto.
Histórias de Esperança e Superação
O mentor do projecto partilhou as experiências de superação dos seus alunos dizendo:
“Apesar das adversidades, muitas crianças em situação de rua têm histórias incríveis
de superação e mostram que, com o apoio certo, é possível transformar a realidade
dessas crianças e oferecer a elas um futuro melhor.”
O Papel das Organizações não governamentais
Organizações não governamentais que actuam no apoio e reintegração social de crianças
em situação vulnerável em Moçambique, como Fundo das Nações Unidas para a Infância
em Moçambique – UNICEF, AGAPE Moçambique e a Organização Moçambicana de
Apoio à Criança- Renascer-OMAC, através das suas “Agendas para a Criança”, destacam
a importância de garantir a sobrevivência, desenvolvimento e bem-estar das crianças,
especialmente as mais vulneráveis.
“Na Renascer, trabalhamos todos os dias para garantir que nenhuma criança em
situação de risco seja deixada para trás. O nosso compromisso é com a dignidade, a
protecção e a esperança de um futuro melhor para cada uma delas.” Comentou a
assistente social, Celina Vilanculos da Renascer-OMAC.
Além disso, as organizações trabalham em estreita colaboração com o governo e
organizações locais para promover o acesso à educação de qualidade, protecção social e
participação activa das crianças no desenvolvimento de políticas e programas que afectam
suas vidas, visando promover o bem-estar e a prosperidade das crianças, famílias e
comunidades em todo o país.
A reintegração social das crianças em situação de rua em Moçambique requer um esforço
conjunto entre governo, organizações não governamentais, comunidade e as próprias
crianças. É fundamental investir em educação, capacitação profissional e apoio
psicossocial, além de fortalecer as políticas públicas existentes.