Celebra-se hoje, 3 de Março, o Dia Mundial da Audição, instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para sensibilizar sobre a prevenção da perda auditiva e a necessidade de cuidados auditivos acessíveis. A data foi criada em resposta ao aumento de problemas auditivos em várias partes do mundo, comprometendo não apenas a qualidade de vida de milhões de pessoas, mas também a sua inclusão social e o acesso à educação e ao emprego.
De acordo com a OMS, mais de 1,5 bilião de pessoas no mundo vivem com algum grau de perda auditiva, e este número poderá atingir 2,5 biliões até 2050. O Relatório Mundial sobre Audição (2021), alerta que a falta de acesso a serviços de saúde auditiva, o estigma e a desinformação agravam a situação, afectando, sobretudo, as populações mais vulneráveis. O documento destaca ainda que a prevenção e a intervenção precoce são fundamentais para reduzir os impactos da perda auditiva.
Em Moçambique, os desafios relacionados com a saúde auditiva incluem a escassez de especialistas, a falta de equipamentos adequados e o desconhecimento generalizado sobre a prevenção e o tratamento da perda auditiva. Muitas crianças nascem com deficiência auditiva sem um diagnóstico atempado, o que tem um impacto directo no seu desenvolvimento educativo e na sua inclusão social.
A Associação dos Jovens Surdos de Moçambique (AJOSMO), organização que luta pelos direitos das crianças e jovens surdos, destaca que um dos principais desafios enfrentados pela comunidade é a barreira na comunicação. Isso afecta o acesso à educação, à saúde e ao emprego. “A qualidade do ensino ainda deixa muito a desejar. São poucas as escolas preparadas para receber alunos surdos e, mesmo nas que existem, há dificuldades no processo de ensino e aprendizagem. A Escola Especial nº 1 tem demonstrado resultados positivos, encaminhando estudantes para a Escola Secundária Josina Machel, mas a transição para o ensino superior ainda apresenta muitos desafios”, explica Monias Correia, representante da AJOSMO.
A nível da saúde, a associação lamenta a falta de profissionais qualificados em Língua de Sinais. “Quase não há especialistas. Em Maputo, por exemplo, há apenas um profissional capacitado. Já realizámos uma formação para funcionários de saúde, mas, devido à falta de prática e transferências de pessoal, muitos esqueceram o que aprenderam”, relata Correia.
O acesso ao emprego também continua a ser um grande obstáculo. “Muitas instituições não consideram os surdos como pessoas capazes de exercer qualquer actividade, quando, na verdade, com formação adequada, podem realizar tudo”, afirma o Interprete de línguas de Sinais, alertando ainda que até o momento, não existem políticas específicas para a inclusão de jovens surdos no mercado de trabalho.
Ainda assim, a associação destaca o esforço de algumas entidades privadas na inclusão de pessoas surdas no mercado de trabalho, como é o caso de uma empresa portuária que contratou dois jovens surdos que se evidenciam no mercado pela sua dedicação e competência.
Neste Dia Mundial da Audição, a AJOSMO deixa uma mensagem de força e resistência: “A nossa voz é visível, a nossa língua é rica e a nossa identidade é forte. Continuemos a lutar, mesmo diante de tantos desafios.”
A necessidade de garantir o acesso universal à informação, à saúde e ao emprego para a comunidade surda continua a ser urgente. Para que ninguém fique para trás, é essencial a implementação de políticas inclusivas que assegurem direitos iguais a todas as pessoas, independentemente da sua condição auditiva.
Leia o relatório da OMS em:
file:///C:/Users/misam/Downloads/9789240020481-eng%20(1).pdf