Moçambique enfrenta desafios alarmantes no que diz respeito à segurança alimentar e nutricional, com uma elevada taxa de desnutrição infantil que compromete o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. Dados do Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) apontam que 36,7% das crianças sofrem de desnutrição crônica e 3,8% enfrentam desnutrição aguda. A situação é ainda mais preocupante em regiões afectadas por conflitos armados, eventos climáticos extremos e pobreza, factores que agravam a insegurança alimentar no país.
De acordo com o relatório O relatório “Focos de Fome: Alertas Precoces 2024”, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), Moçambique foi recentemente incluído na lista de países com focos de fome, sendo a violência e os conflitos armados apontados como principais causas da crise alimentar. A insegurança alimentar também é exacerbada por factores como eventos climáticos extremos, deslocamentos populacionais e a pobreza que compromete a saúde e o desenvolvimento económico do país.
Hoje, 31 de março, celebra-se o Dia Mundial da Nutrição, uma data que visa aumentar a conscientização mundial sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada. Em Moçambique, esta data destaca a urgência de combater a desnutrição infantil e promover políticas eficazes para garantir o acesso a alimentos nutritivos para todos. A celebração desta data em 2025, coincide com o lançamento em Moçambique de uma campanha Global denominada, Já Chega, em resposta ao quadro actual desafiador no combate à desnutrição, a medida que aumentam choques climáticos, quedas de chuvas irregulares que comprometem culturas, secas prolongadas que resultam em bolsas de fome, conflitos e custo de vida elevado, bem como a redução de investimento a causas sociais.
Segundo a Directora Nacional da World Vision, Maria Carolina da Silva, a crise nutricional moçambicana coloca milhões de crianças em risco. Para a Directora, a desnutrição compromete o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, limitando seu potencial e perpetuando o ciclo da pobreza. “Não se pode ignorar que milhões de crianças moçambicanas enfrentam esse problema diariamente, e é necessário agir para garantir um futuro melhor para elas“. Afirmou.
Maria Carolina, alertou que crianças desnutridas têm maior probabilidade de apresentar dificuldades de aprendizado e desenvolvimento, impactando não apenas suas vidas individuais, mas também o crescimento socioeconômico do país. “Ao dizer ‘Já Chega’, queremos destacar as graves consequências socioeconômicas da desnutrição, que não só acfeta diretamente a esses meninos e meninas e suas famílias, mas também prejudica a produtividade e o crescimento econômico de Moçambique como um todo“, concluiu.
A antiga Ministra da Saúde, Nazira Abdula, afirmou que a desnutrição crônica é reconhecida como um indicador da qualidade do capital humano no país. “Em Moçambique, a taxa de desnutrição é um problema de saúde pública, situando-se atualmente em 37%, de acordo com dados do Inquérito Demográfico e de Saúde. Apesar da redução de 44% para 37%, o número ainda é considerado muito alto pelos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica como alta qualquer taxa superior a 30%.”
A ex-ministra acrescentou que, no país, as taxas de desnutrição aumentam progressivamente do Sul para o norte, sendo as províncias do Norte as mais afectadas. “Infelizmente, as províncias do Norte lideram as estatísticas, e Nampula, que é a província que represento, é a que apresenta as taxas mais altas de desnutrição no país”, concluiu.
O Dia Mundial da Nutrição 2025 oferece uma oportunidade vital para refletir sobre os desafios enfrentados por Moçambique e outros países que compartilham realidades semelhantes. Além das iniciativas governamentais, é fundamental a colaboração entre entidades públicas, privadas e organizações internacionais para promover soluções sustentáveis e garantir que nenhuma criança sofra os impactos devastadores da fome e da desnutrição.
Leia mais em: