O transtorno bipolar é uma condição de saúde mental que afecta milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo Moçambique. Caracterizado por oscilações extremas de humor, da euforia à depressão profunda, é frequentemente incompreendido, gerando estigma e dificultando o acesso ao tratamento adequado.
Neste Dia Mundial do Transtorno Bipolar, assinalado a 30 de março, a Hub traz uma reflexão sobre os desafios enfrentados por quem vive com essa condição. Para aprofundar o tema, conversámos com a psicóloga moçambicana Ízda Mafumo, que explicou os sinais e sintomas mais comuns, as dificuldades no acesso ao apoio psicológico e o papel fundamental da família e da sociedade no acolhimento e no tratamento adequado.
1. Quais são os principais desafios enfrentados por pessoas que vivem com transtorno bipolar?
“As pessoas que vivem com transtorno bipolar enfrentam muitos desafios na vida diária, principalmente devido às flutuações de humor. Essa alteração significativa pode afectar profundamente suas relações interpessoais o que torna difícil a convivência com os outros e, muitas vezes, impossibilita a manutenção de um emprego. São frequentemente julgadas e abandonadas pelas pessoas ao seu redor, o que torna a vida ainda mais difícil. Elas mesmas não se entendem, não conseguem controlar os seus impulsos. Tem uma vida muito complicada”.
2. Como uma pessoa pode identificar se tem transtorno bipolar e quais são os sinais e sintomas mais comuns?
“É importante dizer que o transtorno bipolar é uma alteração do humor, onde o indivíduo pode ter um quadro de euforia, ou mania onde a pessoa apresenta uma alegria excessiva e, intercala com depressão. Quanto aos Sintomas, a pessoa com transtorno bipolar apresenta um humor muito elevado, a pessoa chega ao ponto de não comer como deve ser, dorme muito pouco, uma média de 1h por dia por exemplo, a pessoa pode mostrar uma autoestima excessiva, achando que pode fazer grandes coisas e que não precisa de limites, durante as suas conversas a pessoa pode começar a falar tão rápido, que em algumas situações tem fuga de ideias e num curto espaço de tempo fala de vários assuntos”.
3. Como o estigma em torno do transtorno bipolar pode impactar a busca por tratamento e apoio psicológico?
“Por vivermos numa sociedade onde se acredita muito no obscurantismo, muitas vezes pessoas com esses transtornos são associados a feitiçaria, e também por se achar ou acreditar que os psicólogos cuidam de loucos, isso acaba por impedir que as pessoas busquem por ajuda nos lugares certos.”
4. Que estratégias recomendaria para amigos e familiares apoiarem alguém com transtorno bipolar, especialmente durante episódios de crise?
“Durante a crise não há muito a fazer, mas é possível garantir que a pessoa esteja num lugar seguro. E quando ela voltar a si, sugerir que ela busque por ajuda de um profissional da área da saúde mental, que saberá administrar os fármacos e terapias que ajudarão essa pessoa a controlar os seus impulsos.”
5. Quais são as melhores práticas para lidar com pessoas que têm transtorno bipolar, tanto em situações cotidianas quanto em momentos de crise?
“Respeitar os momentos de crise da pessoa, não insistir que ela fale sempre sobre o transtorno. Convidar a pessoa a praticar exercícios, isso ajuda na regularização do sono, consequentemente tem um efeito positivo no seu humor.”
6. Por fim, qual é a importância do Dia Mundial do Transtorno Bipolar e que mensagem você gostaria de deixar para aqueles que convivem com essa condição?
“É uma data muito importante na medida em que elucida as pessoas sobre esse transtorno, que muitas vezes pode ser confundido como arrogância ou que a pessoa é insuportável. Infelizmente as pessoas com esse transtorno sofrem muito, antes do tratamento elas não conseguem controlar esses impulsos. A minha mensagem é que devemos acolher essas pessoas e não julgar e sugerir a elas que procurem ajuda aos profissionais de saúde qualificados.”