Published April 25, 2025
Categories: Intervenções

Moçambique registou uma queda significativa no número de casos de malária em 2024, mas o primeiro trimestre de 2025 trouxe sinais de alerta com o aumento da gravidade e da mortalidade da doença. De acordo com dados do Ministério da Saúde (MISAU), o país notificou 11.622.449 casos em 2024, uma redução de 12% em relação aos 13.240.174 casos registados em 2023. As províncias com maior carga de doença foram Zambézia (3,48 milhões de casos), Nampula (2,87 milhões) e Cabo Delgado (1,69 milhões), que juntas concentraram aproximadamente 70% do total nacional. Em contrapartida, Maputo Cidade (14 mil casos), Maputo Província (41 mil) e Gaza (89 mil) apresentaram os números mais baixos.  Contudo, embora o número de casos graves tenha diminuído ligeiramente de 69.286 em 2023 para 66.816 em 2024, os dados de janeiro a março de 2025 indicam uma subida preocupante de 15,4%, com 19.947 casos de malária severa notificados. No mesmo período, as mortes por malária aumentaram de 107 para 162, uma elevação de 51%, com destaque para Niassa, que sozinho concentrou 40% dos óbitos (64 mortes).

Em entrevista ao Hub de Direitos Humanos do MISA Moçambique, no âmbito do Dia Mundial da Malária, celebrado a 25 de abril, Inês Juleca António, responsável pelas intervenções de controlo do vector no Programa Nacional de Controlo da Malária do MISAU, falou sobre os avanços e os desafios no combate à doença. “Alcançamos vários progressos no combate e controlo da malária nos últimos anos, progressos na prevenção, no diagnóstico e tratamento”, afirmou.
“Estamos a usar uma estratégia que se chama gestão integrada do vector, no qual estratificamos o país e, através dos critérios que cada área estratificada apresenta, nós temos colocado um tipo de intervenção, de modo a controlar o vector transmissor da malária”
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De acordo com a responsável pelas intervenções de controlo do vector, entre as principais medidas, o país aposta fortemente na distribuição de redes mosquiteiras, consideradas o principal instrumento de prevenção, e na pulverização intradomiciliária, que está a ser realizada apenas nas áreas com maior densidade populacional e incidência da doença, especialmente no sul do país. “Estamos a fazer agora a pulverização apenas na zona sul do país com apoio do governo sul-africano, para poder eliminar a malária na África Austral. Visto que as fronteiras são os lugares onde com mais facilidade se transmite a malária, devido ao aglomerado populacional.”

 Para Inês Juleca, o país também está preparado para o diagnóstico e tratamento. “Temos teste rápido em todas unidades sanitárias, e para quem precisar de tratamento o país está em condições. Existe anti malárico para todos os cidadãos moçambicanos nos nossos depósitos e nas unidades sanitárias.”

Inês Juleca, salientou ainda os esforços para capacitar profissionais de saúde e o papel crucial da comunicação comunitária. “Conseguimos também formar vários profissionais de saúde; em comparação com os anos anteriores, estamos com um nível elevado de profissionais que lidam com a malária e também temos a media que está bastante engajada e preocupada com a incidência da malária no país e tem divulgado conteúdos relacionados com a doença.”

Apesar disso, um dos maiores obstáculos continua a ser o uso incorrecto das redes mosquiteiras pela população. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, estamos a usar este método mesmo. Não há outra forma de poder reverter o desafio de usos de redes mosquiteiras a não ser a comunicação para mudança de comportamento. Há quem recebe a rede e usa devidamente, mas há quem recebe e faz uso inapropriado, leva para pesca, faz cerca para as hortas, amarra carvão, o que nos desgasta bastante, visto que a rede é o elemento que temos como principal para o combate à malária e tem se feito um esforço grande para produção, transporte e alocação da mesma.” acrescentou a responsável pelas intervenções de controlo do vector.

Inês Juleca, destacou o papel da comunidade como fundamental para o sucesso da prevenção. “Toda a prevenção, na verdade, é feita na comunidade desde a de primeira linha, que consiste em prevenir que tenhas malária, e a de segunda linha, que é para não morrer de malária, para se fazer a pulverização a população tem a função de abrir as portas das suas casas e permitir que este trabalho seja feito, 90% do papel para prevenção e combate da malária está nas mãos da  população.”

Outro ponto de destaque da entrevista foi a introdução da vacina contra a malária, actualmente em fase de demonstração na província da Zambézia. “A vacina da malária foi introduzida em Moçambique e neste momento estamos a vacinar apenas na província da Zambézia. Os resultados da província é que vão ditar o alastramento da vacina em todas províncias do país.”

Segundo explicou Inês Juleca, Maputo Cidade e Província, poderão não ser abrangidas pelas campanhas futuras. “Temos um plano de abranger a vacina a todas as províncias, excepto a província e a cidade de Maputo, onde geralmente fica de fora até nas campanhas de distribuição de redes mosquiteiras, devido à sua baixa prevalência da doença.”

A responsável pelas intervenções de controlo do vector, conclui com cautela, reforçando que a decisão sobre a expansão da vacina dependerá dos dados de prevalência. “Vamos aguardar os resultados da vacinação na província da Zambézia, depois de fazer um estudo e comparar o antes e depois da introdução da vacina poderemos saber qual é a prevalência da doença. Esta pesquisa é que dirá o que está a ser feito pela vacina. Então vamos aguardar os resultados que ainda não temos.”