O MISA Moçambique tomou conhecimento de um discurso de ódio proferido pelo chefe da bancada do partido Frelimo na Assembleia Municipal da Cidade de Nampula, Pedro Gilherme Kulyumba, contra o jornal Ikweli e o seu director, Aunício da Silva.
No discurso, proferido durante a 4ª sessão ordinária daquele órgão, decorrida no dia 26 de Outubro de 2021, e devidamente documentado em vídeo, Pedro Kulyumba acusa o jornal de difundir mentiras e insinuações contra o seu partido, sem, contudo, apresentar quasquer factos para sustentar tal acusação.
Em tom de ameaça, aquele político acusa o jornal de nutrir ódio contra a sua bandaca, chamando o tablóide de “Macacada de editor de meia-tigela, apologista das teorias da conspiração e lobista desvairado”.
Kulyumba chama ainda Aunício da Silva de “manipulador desnudado, enganador, intriguista afeiçoado e caçador de tachos”, acrescentando que “o Ikweli não está preparado para exercer o jornalismo e acusando-o de mentir, viciar e manipular documentos”. Mais uma vez, tudo isso sem se socorrer de factos.
Pela forma como o discurso foi tornado público, incluindo a sua circulação ao nível das plataformas digitais, torna-se difícil encontrar o contexto em que este discurso de ódio se insere.
Em contacto com Aunício da Silva, o MISA ficou a saber da possibilidade de que o mesmo seja uma reacção a duas matérias publicadas em Agosto de 2021, pelo jornal Ikweli, envolvendo a pessoa do Senhor Kulyumba. A primeira, referia-se à sua cessação inglória de funções de director do Museu Nacional de Etnologia em Nampula. A segunda refere-se aos elogios feitos pelo Vice-chefe da Bancada da Frelimo na referida Assembleia Municipal, quanto ao trabalho do actual edil, Paulo Vahanle, as quais, aparentemente, não terão sido do agrado de Kulyumba.
O MISA Moçambique entende que o discurso de ódio destilado contra o Jornal Ikweli e seu director constiui um duplo atropelo aos preceitos constitucionais e à lei vigente em Moçambique, ao ferir a dignidade humana do seu director e, por outro lado, por consubstanciar-se em tentativa de interferência na isenção cultivada pelo jornal no confronto de ideias.
O MISA considera repugnante e baixa jaez a atitude do Senhor Kulyumba, a qual não o dignifica quer a si pessoalmente quer ao partido Frelimo, em tanto que organização política que dirige o Estado moçambicano.
Faz ainda recordar que nenhum cidadão,incluindo dirigentes de partidos políticos, deve se sentir no direito de ameaçar e insultar jornalistas ou órgãos de comunicação social pelo simples facto de discordar com os seus conteúdos, e recomenda a todos aqueles que se considerem que tenham sido injuriados por qualquer matéria noticiosa ou de opinião jornalística, a fazerem-se valer das disposições relevantes contidas na Constituição da República, na Lei de Imprensa e demais legislação pertinente.
Num país que luta pela construção da paz e da democracia, a violência, seja ela verbal ou de outra natureza, não deve ser tolerada.