O MISA Moçambique tem estado a acompanhar, com elevada preocupação, ao escalar de ataques, alguns físicos, outros verbais, contra profissionais de comunicação, no âmbito das manifestações associadas à crise pós-eleitoral que o país vive. Como organização de defesa e promoção das Liberdades de Imprensa e de Expressão e do Direito à Informação, o MISA desencoraja, nos termos mais veementes, estes ataques contra a classe jornalística.
À medida que a tensão pós-eleitoral se torna cada vez mais grave, estão a multiplicar-se os ataques contra jornalistas, um pouco por todo o país. Um dos mais recentes ataques ocorreu na semana passada, em Maputo, quando um grupo de manifestantes arremessou pedras contra uma viatura da Rádio Moçambique (RM). Na sequência, um trabalhador da RM ficou ferido, além de danos sobre a viatura. De acordo com o administrador de produção da estação pública de rádio, Arão Cuambe, o trabalhador atingido estava em pleno exercício das suas actividades profissionais.
Também na semana passada, o repórter Ernesto Martinho, da Tv Sucesso, sofreu ameaças verbais contra a sua integridade física e a da sua família, com várias mensagens ofensivas a serem difundidas nas redes sociais digitais. Inclusivamente, há casos de género que são protagonizados por agentes e funcionários do Estado. Depois do grave caso do dia 21 de Outubro último, em que agentes da Polícia disparam gás lacrimogéneo contra jornalistas que entrevistavam o candidato presidencial Venâncio Mondlane, além de outros profissionais atingidos, feridos e que pararam no hospital, no dia no dia 26 de outubro de 2024 foi a vez do director dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) de Mecanhelas, Niassa, Domingos Erasto.
Nesta data, este dirigente local ameaçou repórteres das televisões Sucesso e Amaramba e da Rádio Esperança, além de ter arrancado o seu equipamento de trabalho. O caso ocorreu quando os repórteres faziam cobertura das manifestações que têm estado a caracterizar a corrente crise pós-eleitoral. Relatos colhidos pelo MISA indicam que, depois de longas horas em que os repórteres exigiam a devolução de seus equipamentos, mais tarde o director do SISE os convocou para manifestar a sua insatisfação pelo registo das manifestações e disparos da polícia.
Posicionamento
O MISA Moçambique manifesta a sua mais profunda preocupação com o escalar de ataques contra jornalistas, no âmbito das manifestações em curso. Como organização de defesa e promoção das Liberdades de Imprensa e de Expressão e do Direito à Informação, o MISA desencoraja, nos termos mais veementes, estes ataques contra a classe jornalística. Não nos podemos permitir, enquanto sociedade, que as clivagens políticas que vivemos nos levem a perder conquistas civilizacionais como a Liberdade de Imprensa, conseguidas com tantos sacríficos e até com sangue derramado.
Neste momento em que estamos quase todos com os ânimos à flor da pele, pela forma pouco profissional como foram geridas eleições e pela crise dai resultante, devemos ter o discernimento possível para não confundirmos os jornalistas com os protagonistas das situações que estamos hoje a viver. Pelo contrário, os jornalistas são os profissionais que mais precisamos neste momento de crise, para nos fornecerem informação credível sobre os acontecimentos à nossa volta. Por isso, ao invés de atacar estes mensageiros, temos de protegê-los e acarinhá-los para garantir que continuem a exercer a sua actividade, que é vital nestes momentos incertos que estamos a atravessar.
Ao atacar profissionais de comunicação social, não estamos a resolver os nossos problemas. Pelo contrário, estamos a caminhar ainda mais para as trevas. Independentemente de discordarmos das linhas editoriais dos órgãos de comunicação, atacar a imprensa é inaceitável e não é digno de pessoas civilizadas, muito menos de quem procura alternativas de governação. Mais do que isso, atacar jornalistas representa um grave atentado contra a Liberdade de Imprensa e à própria democracia, sendo a Liberdade de Imprensa um dos mais importantes indicadores de uma democracia. Face a este cenário, o MISA Moçambique insta às autoridades competentes a adoptarem medidas visando garantir a segurança dos jornalistas e proteger seu trabalho.
No entanto, não podíamos terminar esta exortação sem apelar, igualmente, aos profissionais de comunicação social para adoptarem uma postura ainda mais profissional neste momento de ânimos. Os jornalistas devem se recordar que o seu papel é de relatar os factos e não se transformarem, eles próprios, em protagonistas dos acontecimentos. Os jornalistas devem evitar tomar partido nos acontecimentos que reportam. Se esta é postura desejável ao jornalismo em todo o momento, é ainda mais crucial nesta altura em que os ânimos estão exaltados.