É a primeira iniciativa de género, em Moçambique. Chama-se Fórum de Media, Direitos Humanos, Cidadania e Desenvolvimento. Iniciativa do MISA Moçambique e parceiros, o Fórum tem, entre outros objectivos, a intenção de juntar o sector de media e outros actores da sociedade para discutir a área, com destaque para as componentes de gestão e produção de conteúdos. Na sua primeira edição, que arrancou esta segunda-feira, 02 de Dezembro, o evento, abreviadamente designado Fórum de Media, está dedicado aos “desafios de sustentabilidade dos media na era da digitalização”.
A cerimónia de abertura da primeira de edição do Fórum de Media foi dirigida pelo vice-ministro dos Transportes e Comunicações, Amilton Alisson, e contou com a presença dos embaixadores da Noruega, Haakon Gram-Johannessen, e da França, Yann Pradeau, além de mais de 60 outros participantes, entre profissionais e gestores de media, reguladores, activistas, académicos e estudantes, que não quiseram perder o histórico lançamento deste evento que se pretende anual. Falando na abertura do evento, o presidente do MISA Moçambique, Jeremias Langa, enfatizou que a transformação digital está a mudar as dinâmicas da comunicação social de forma profunda e constante, o que obriga o sector a repensar as estratégias de sustentabilidade, adaptar modelos de negócio e, sobretudo, proteger os valores fundamentais que definem o jornalismo: a verdade, a independência, a Liberdade de Expressão e o Direito à Informação.
Para Jeremias Langa, da mesma forma que tem gerado oportunidades, a transformação digital também impõe desafios para os meios de comunicação, destacando o Fórum de Media como uma plataforma para reflectir sobre a sustentabilidade do jornalismo e sua relevância no mundo contemporâneo. “Hoje, mais do que nunca, os media, enquanto pilar da democracia, têm vindo a enfrentar desafios que vão desde o aumento da desinformação, a pirataria digital, as mudanças do ecossistema de produção e recepção, gerando novas lógicas de mercado que alteram, profundamente, os modelos anteriores de negócio dos media. Este Fórum é, por isso, uma oportunidade única para reflectirmos sobre estas questões e propormos caminhos para uma indústria dos media sustentável e capaz de responder, adequadamente, a estes desafios”, assinalou o presidente do MISA.
Quem também congratulou a iniciativa da organização de um Fórum de Media, ainda mais sobre questões de digitalização, conforme o Fórum deste ano, foi o vice-ministro dos Transportes e Comunicações, Amilton Alisson. No seu discurso de abertura, o dirigente chamou atenção para a necessidade de regular o sector digital de forma equilibrada, garantindo a Liberdade de Imprensa e combatendo a desinformação. “O jornalismo deve continuar a ser uma referência de rigor e profissionalismo, especialmente num ambiente onde as chamadas notícias falsas podem, facilmente, manipular a opinião pública e comprometer a coesão social”, disse.
Ainda na sua intervenção, o vice-ministro dos Transportes e Comunicações referiu-se à inclusão digital como um dos principais desafios do país, onde apenas 20% da população tem acesso à internet. “A digitalização é uma força disruptiva que transformou os meios de comunicação, mas também expôs desigualdades que precisamos abordar urgentemente. O nosso objectivo é garantir que todos os moçambicanos possam beneficiar das oportunidades da economia digital, sem deixar ninguém para trás”, garantiu Alisson.
Seguir ética e profissionalismo
Por sua vez, o embaixador da Noruega, Haakon Gram-Johannessen, também reconheceu o contributo da digitalização para o desenvolvimento social e económico das sociedades. No entanto, apontou desafios que incluem a produção, em massa, de informações sem seguir regras profissionais e éticas, como sempre fez o jornalismo tradicional. Neste sentido, o embaixador alertou para os perigos das chamadas “notícias falsas”, que se disseminam, rapidamente, e prejudicam a sociedade. “As fake news têm a particularidade de se espalhar, muito rapidamente, causando danos à sociedade, à segurança do Estado e violando os direitos fundamentais dos cidadãos. Temos todos a responsabilidade acrescida de diminuir ou mesmo eliminar os impactos das fake news no nosso seio”, afirmou o diplomata, destacando a relevância de uma imprensa livre para a democracia.
Por seu turno, o embaixador da França, Yann Pradeau, também chamou atenção para os desafios impostos pela digitalização, como a propagação de informações não verificadas nas redes sociais digitais. Para o embaixador francês, a digitalização dos meios de comunicação e o uso das redes sociais da internet permitiram um acesso imediato a uma grande quantidade de informações. “É facto que esta acessibilidade reforçou, inegavelmente, a Liberdade de Expressão e de circulação da informação. Entretanto, a mesma também coloca em causa a fiabilidade e a protecção dos dados pessoais. As redes sociais tornaram-se, por vezes, canais onde a informação se propaga sem filtro nem verificação”, disse.