A ALEGAÇÃO
Desde finais de Março que tem circulado, de forma persistente nas redes sociais digitais, uma informação que alega que o Governo sul-africano confirma prisão de Dom Carlos Matsinhe, presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique. Segundo a publicação, o presidente da CNE teria sido detido por lavagem de dinheiro e desvio de fundos relacionados com o processo eleitoral moçambicano, como se pode ver aqui. Outras publicações acrescentam que Dom Carlos Matsine foi encontrado na posse de uma mala de dinheiro que, alegadamente, era destinado a caridade, como se pode ler aqui.
OS FACTOS
Entretanto, as informações que circulam são completamente falsas. O MisaCheck conseguiu falar com Dom Carlos Matsinhe a partir de Maputo e não da prisão e nem da África do Sul. No contacto com a nossa equipa, o presidente da CNE desmentiu, categoricamente, as informações que recaem sobre ele. “De facto, eu estou bem, estou aqui em Maputo e estou a viver uma vida normal, a exercer o meu trabalho e tenho estado aqui, na CNE, diariamente. Essa informação é mesmo de maldade. A informação não é verdadeira”, afirmou.
Além disso, a verificação feita pelo MisaCheck constatou que nenhuma instituição jornalística séria reportou a alegada detenção. Da mesma forma, nem as autoridades moçambicanas nem as sul-africanas emitiram qualquer tipo de comunicado ou confirmação sobre a suposta prisão. Se tal acontecimento tivesse de facto ocorrido, envolvendo uma figura como o presidente da CNE, seria, sem dúvidas, um tema de destaque dos principais meios de comunicação.
A ALEGAÇÃO
Recentemente, foi publicada, num suposto site de notícias, uma informação com o título: “Eleições de 2025 serão realizadas de forma eletrónica, confirma Venâncio Mondlane”. Além da alegada realização de eleições em 2025, a referida informação destaca que o político moçambicano teria dado uma entrevista à media local, assegurando que a transição para o voto eletrónico traria mais transparência, segurança e eficiência ao processo eleitoral. A informação menciona, também, que o projecto de implantação do voto electrónico estaria em andamento com o apoio de empresas tecnológicas e que programas educativos estariam a ser preparados para informar os eleitores sobre a nova forma de votar, como se pode ler aqui.
OS FACTOS
Entretanto, esta informação é completamente falsa. Para começar, Moçambique não terá eleições este ano. Em Moçambique, as eleições realizam-se a cada cinco anos. Assim, dado que as últimas eleições ocorreram em 2023 (autárquicas) e 2024 (gerais), as próximas só deverão ocorrer, respectivamernte, em 2028 e 2029.
Além disso, não há nenhuma decisão tomada sobre implementação de voto eletrónico, em Moçambique. O que existe é apenas uma proposta de estudo sobre a viabilidade do voto eletrónico, como esclareceu ao MisaCheck o porta-voz da CNE, Paulo Cuinica. “Essa proposta foi apenas uma recomendação do público presente no encontro realizado nos dias 24 e 25 de Fevereiro de 2025, sobre o balanço das Sextas Eleições Autárquicas de 11 de Outubro de 2023, e das Sétimas Eleições Gerais de 9 de Outubro de 2024 e, até ao momento, não há nenhuma decisão concreta sobre o assunto. Ainda estamos a reflectir sobre a colocação. Não é verdade que está a ser implementado um projecto desta natureza, aqui, em Moçambique” frisou.
O comunicado oficial sobre o encontro pode ser visto aqui.
A ALEGAÇÃO
Tal como a sua mandatária financeira, Glória Nobre, o ex-candidato presidencial, Venâncio Mondlane, também foi dado como morto pelas redes sociais da Internet. A informação sobre a alegada morte de Venâncio Mondlane também foi divulgada no dia 1 de Abril, por um site que alegou que o ex-candidato presidencial morreu num acidente aéreo, enquanto pilotava um Tupolev Tu-134. Segundo a alegação, o acidente ocorreu na fronteira entre Moçambique e África do Sul, próximo à Cidade do Cabo, como se pode ler aqui.
OS FACTOS
Porém, esta informação é completamente falsa. Um dia após a alegada morte, Venâncio Mondlane fez uma aparição pública, no dia 2 de Abril, divulgando imagens de um encontro com o ex-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, como pode ser visto aqui. Além de a página oficial do político não mencionar tal ocorrência, nenhum órgão de comunicação social oficial reportou tal acontecimento, o que, na eventualidade de a informação ser verdadeira, seria simplesmente impossível, ainda mais por Venâncio Mondlane ser uma figura de destaque no panorama político nacional. Pelo contrário, a informação foi divulgada por um site de credibilidade duvidosa. Aliás, no referido site, as opções de compartilhamento e comentários redireccionam os usuários para sites de apostas online, uma característica comum de plataformas fraudulentas que procuram enganar internautas e atrair tráfego.
Mais ainda, a imagem utilizada como a prova do suposto acidente não é da África do Sul. Pelo contrário, é referente a um acidente aéreo ocorrido em Dezembro de 2024, perto do aeroporto de Aktau, no Cazaquistão, como se pode ver aqui e aqui.
Como se não bastasse, a referência de que o suposto acidente ocorreu na fronteira entre Moçambique e África do Sul, próximo à Cidade do Cabo, também está errada. A Cidade do Cabo não está na fronteira com Moçambique. Pelo contrário, é uma cidade portuária situada na costa sudoeste da África do Sul (extremo oposto de Moçambique), ficando a aproximadamente dois mil quilómetros de Maputo (comparativamente, é uma distância próxima a de Maputo a Nampula, no Norte de Moçambique).
A desinformação sobre a morte de Venâncio Mondlane pode ser parte da escalada de casos de género observada por ocasião do dia 1 de Abril, conhecido como Dia da Mentira. Aliás, tal como o MisaCheck indicou, esta quinta-feira, por ocasião desta data, circularam vários casos de desinformação sobre a morte de figuras públicas moçambicanas, incluindo Glória Nobre, mandatária financeira de Venâncio Mondlane, como se pode verificar aqui.
A ALEGAÇÃO
Na quarta-feira, 2 de Abril, um site supostamente de notícias chamado Povomz publicou uma informação alegando que Glória Nobre, mandatária financeira do ex-candidato presidencial, Venâncio Mondlane, teria perdido a vida enquanto estava detida, alegadamente por desvio de fundos do Estado para financiar a campanha do concorrente que era suportado pelo partido Podemos. A alegação vem acompanhada de uma imagem supostamente retirada de um noticiário televisivo, com o GC (gerador de caracteres) indicando que ‘‘Glória Nobre detida em Maputo: Financeira e mandatária de Venâncio Mondlane acusada pelas autoridades de financiamento ao terrorismo’’.
OS FACTOS
Entretanto, esta informação é completamente falsa. Glória Nobre está viva e continua detida, na cidade de Maputo, desde o dia 12 de Março. O MisaCheck entrou em contacto com o Gabinete de Comunicação e Imagem de Venâncio Mondlane, tendo o assessor de imprensa do antigo candidato presidencial negado categoricamente as alegações sobre a morte da Glória Nobre.
De acordo com Abdul Nariz, assessor de imprensa, ‘‘esta informação não constitui a verdade. Ela (da Glória Nobre) encontra-se viva. É verdade que ela tem problemas de hipertensão e, de vez em quando, sofre crises, mas está viva’’. A fonte acredita que esta alegação tenha surgido devido ao 1º de Abril, Dia da Mentira, data frequentemente associada à propagação de desinformação e boatos. Aliás, o MisaCheck identificou outros casos de desinformação que circularam na mesma data, incluindo alegações infundadas sobre a morte de figuras públicas moçambicanas, como se pode verificar aqui e aqui.
A disseminação de informações falsas, independentemente da sua natureza, pode gerar pânico e levar aos caos e até tragédias. Por isso, o MisaCheck reforça a necessidade de um compromisso colectivo no combate à desinformação, porquanto a sua propagação representa uma ameaça à democracia e à estabilidade social. Assim, todos os cidadãos são chamados a verificarem a autenticidade das informações antes de compartilhá-las. O combate à desinformação é, pois, uma responsabilidade de todos nós!