A ALEGAÇÃO
Desde a manhã de segunda-feira, 16 de Outubro, que circula, nas redes sociais da Internet, uma informação dando conta de uma suposta notificação a Gabriel Júnior, apresentador de televisão e presidente do Conselho de Administração (PCA) da Tv Sucesso, alegadamente em virtude de o meio de comunicação ter feito cobertura imparcial ao processo eleitoral, sobretudo a partir da votação de 11 de Outubro. A alegação baseia-se no trecho de um depoimento feito por Gabriel Júnior, no Programa “Moçambique em Concerto”, do dia 15 de Outubro.
No Programa, o apresentador diz, a dado passo, estar com vontade de falar, mas que não vai falar. "Eu não vou falar. Não vou, não. É melhor não. É melhor não”. diz. E depois prossegue: “eu fui notificado. A Televisão também. Mas não vou falar por que. Vamo-nos fazer presentes na terça-feira. Vamos responder. Vai correr tudo bem porque Deus proverá e Ele estará diante de nós”. A interpretação geral dada às palavras de Gabriel Júnior, particularmente nas redes sociais da Internet, é de que ele e a Tv Sucesso foram notificados em Tribunal em forma de pressão política pelo facto de a televisão ter exposto várias irregularidades que caracterizaram a votação e contagem de votos desde o dia 11 de Outubro.
OS FACTOS
É verdade que a Tv Sucesso e o respectivo PCA foram, recentemente, notificados para uma audição, em Tribunal. Mas, junto à Televisão, o MISA-Moçambique (organização-mãe do Misa Check e que trabalha na promoção e protecção das liberdades de imprensa e de expressão), soube que a notificação em causa, exactamente a que se refere Gabriel Júnior, no “Moçambique em Concerto”, não tinha qualquer ligação com a cobertura jornalítica da televisão ao processo eleitoral 2023.
Pelo contrário, a notificacação, que incluía os repórteres Luciano Valentim e Berta Muiambo, tinha que ver com um caso que é movido pela antiga porta-voz do Serviço Nacional de Migração, Cira Fernandes, contra os dois repórteres desta estação televisiva acima mencionados, indiciados de calúnia e difamação, caso que, até à tarde desta terça-feira, podia ser visto aqui. A audição, que estava agendada para 17 de Outubro, acabou sendo adiada sem nova data.
A ALEGAÇãO
Desde a semana passada que se tornou viral, nas redes sociais digitais, um vídeo no qual um cantor moçambicano, de nome artístico Allan2, alegadamente exalta o partido Renamo, em pleno showmício do partido Frelimo. De acordo com uma legenda feita sobre o vídeo, Allan2 teria gritado “Renamo Hoyéee”, em exaltação a este partido, num evento organizado pela Frelimo, em que participavam membros deste último partido, incluindo Celso Correia, o director de campanha da Frelimo e chefe da bridada central de assistência à província de Nampula. Aliás, numa das descrições ao vídeo de 29 segundos (pelo menos até à tarde de 10 de Outubro de 2023, disponível aqui), refere-se o seguinte: “isso que é verdadeira vingança. O músico Allan2, de Nampula, exalta a Renamo (gritou «Renamo hoyeeeee» ), em pleno show organizado pela Frelimo em Nampula”.
OS FACTOS
Entretanto, uma verificação efectuada pelo Misa Check permitiu apurar que, na verdade, o cantor Allan2 não disse “Renamo Hoyéee”. Pelo contrário, o que o cantor disse foi “Monapo Hoyéee”, em referência ao nome da autarquia da província de Nampula, onde decorreu o showmício. Embora, foneticamente, “Monapo Hoyéee” possa se confundir com “Renamo Hoyéee”, não foi o caso na actuação do cantor baseado na cidade de Nampula, capital da província com o mesmo nome. Aliás, no vídeo original, com 4 minutos e 57 segundos, que Allan2 publicou na sua página do Facebook, às 21h:18 minutos do dia 27 de Setembro, segundo dia da campanha eleitoral 2023, o cantor exalta, claramente, a Frelimo. Até à tarde de 10 de Outubro de 2023, este vídeo inicial estava disponível aqui.
Após o extracto de 30 segundos viralizar nas redes sociais da Internet, o cantor Allan2 voltou a utilizar a sua página do Facebook para publicar a versão original do vídeo, reclamando que o mesmo foi editado para distorcer o que ele teria dito e manchar a sua imagem. “Saudações família. Este é o vídeo original. O que está a circular foi editado por alguém de má fé, no intuíto de manchar a minha imagem. Assistam e escutam com atenção o que realmente eu digo. Estamos juntos e vamos nessa”, escreveu o cantor, numa publicação com as hastags “#Monapo Hoye" e "#Frelimo Hoye" até à tarde de 10 de Outubro de 2023, disponível aqui. Portanto, o vídeo em causa é real, mas o seu conteúdo está a ser deturpado.
A ALEGAÇÃO
Tornou-se viral, nas redes sociais digitais, sobretudo nos últimos dois dias, uma imagem do presidente do partido Renamo, Ossufo Momade, alegadamente acenando, numa actividade de campanha eleitoral, a favor do partido Frelimo. Na imagem em que aparece ao lado de Paulo Vahanle, cabeça de lista da Renamo à autarquia de Nampula, nas eleições municipais deste ano, Ossufo Momade surge com a mão direita levantada e com três dedos para cima, contrariando Paulo Vahanle, que acena com apenas dois dedos.
A legenda sobre a imagem refere que “Ossufo Momade garante nº 3”, em alusão ao partido Frelimo que, no sorteio para as autárquicas deste ano, ficou na terceira posição. Aliás, a dar azo ao alegado apoio de Ossufo Momade ao partido Frelimo, veja-se o que referem várias mensagens que circulam nas redes sociais digitais: “Presidente da Renamo, Ossufo Momade, já disse SIM no número 3. Confirmou o seu voto na Frelimo”; “Ossufo não consegue esconder a sua paixão pela Frelimo. A verdade é como caju. Pode demorar, mas quando amadurece, cai sozinha”; “Claro que sempre esteve claro que OM é um membro do partido Frelimo, com quotas em dia e pagas até 2027”.
OS FACTOS
Entretanto, uma verificação feita pelo Misa Check concluiu que a imagem em que Ossufo Momade surge, alegadamente a endossar a Frelimo, é fruto de pura manipulação. De facto, na fotografia original, Ossufo Momade não levanta apenas três dedos, mas os cinco da sua mão, como se pode ver aqui. Como se não bastasse, a imagem em que o presidente da Renamo aparece com apenas três dedos levantados mostra claros efeitos de edição: uma mão com tonalidade mais escura que na fotografia original, e dedos ligeiramente compridos que na imagem original.
Mais ainda, o Misa Check falou com o autor da fotografia original, o jornalista Sitoi Lutxeque (veja assinatura da imagem no link acima), baseado em Nampula. O jornalista, que cobriu o evento de campanha em que Ossufo Momade se fez fotografar com Paulo Vahanle, disse não se lembrar do presidente da Renamo a endossar a Frelimo. O jornalista disse que registou a imagem ao longo da Avenida do Trabalho, em frente ao Moza Banco, na famosa zona de Jamila. Na altura, a caravana de Ossufo Momade estava numa passeata que foi culminar com um comício na zona da Faina. Com efeito, Ossufo Momade, Paulo Vahanle e Abiba Abá, a delegada política da Renamo, em Nampula, que se vê ao fundo da fotografia, encontravam-se numa viatura em movimento, à caminho da Faina.
Portanto, a ideia de que Ossufo Momade está a apoiar a Frelimo é pura manipulaçao, pelo menos a partir da imagem em causa. Aliás, numa outra versão manipulada da mesma imagem, Ossufo Momade até surge com boné e camisa, ambos vermelhos, cor que identifica a Frelimo. Nesta imagem, a camisa de Ossufo até tem símbolo da Frelimo, tudo contrariando a fotografia original, em que o presidente da Renamo veste camisa e boné azuis, uma das cores que identifica o seu partido.
A ALEGAÇÃO
Está a circular, nos últimos dias, nas redes sociais digitais, uma fotografia que mostra crianças em idade escolar, sentadas em blocos perfilados sobre um chão alagado, numa sala de aulas de construção precária. Actualmente a viralizar no WhatsApp, a imagem em causa está a ser associada à falta de condições de ensino e aprendizagem, em Moçambique. Estando em curso a campanha eleitoral para as eleições autárquicas 2023, a imagem está a ser usada como um convite para um voto contra a falta de condições no Sistema Nacional de Educação (SNE). Com efeito, numa das descrições à imagem, pode se ler o seguinte: “Eles (Nota do Editor: em referência às crianças sentadas ao chão) não têm idade para votar, por favor vote por elesʼʼ.
Aliás, já antes das eleições, a mesma imagem havia sido publicada, no dia 29 de Maio de 2022, no Facebook, com a referência “A educação em Moçambique”, seguida por comentários como “é triste este cenário onde está o nosso governo da Frelimo. Só querem nossos votos”; “a Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz”; “por favor, socorro para essas crianças. Onde está o nosso governo? A Frelimo é que faz quando quer voto, mas depois deixa tudo, sem fazer nada. Pelo menos olhem para o sofrimento desses inocentes, Meu Deus”; ou “enquanto isso, a nossa madeira sai à porta pequena para o mundo lá fora...”, conforme publicação disponível, pelo menos até à tarde do dia 6 de Outubro de 2023, aqui.
OS FACTOS
Embora a falta de condições no SNE seja real, em Moçambique, onde alunos continuam a estudar em situações deploráveis, sentadas no chão e ao relento, incluindo por baixo de árvores, a imagem em causa não é de Moçambique. Na verdade, ela foi tirada no Quénia e retrata uma enchente numa escola da cidade de Kilifi, em Maio de 2019. Portanto, a actual publicação desta imagem está descontextualizada. Aliás, não é a primeira que ela está a ser publicada de forma deturpada. Já em 2019, havia sido associada, nas redes sociais digitais, à Nigéria, o que foi, na altura, rebatido por várias agências de verificação de factos, como a AFP.