A ALEGAÇÃO
Um dos conteúdos de desinformação que marcou a semana que agora termina é de um vídeo de cerca de 18 segundos, no qual o candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo, supostamente promete que, caso ele e o seu partido ganhem as eleições do dia 9 de Outubro, cada pessoa vai ter em casa um avião e um aeroporto. O vídeo, disponível aqui está a ser amplamente partilhado nas redes sociais digitais, com Daniel Chapo a afirmar que se “ganhar eleições, aqui em Chitima, cada pessoa vai ter em casa avião dele e aeroporto dele”. Numa das legendas, pode se ler que "Daniel Francisco Chapo promete a cada cidadão um avião em sua residência".
OS FACTOS
A verificação efectuada pelo MisaCheck constatou que o vídeo em questão é real. Entretanto, sofreu manipulação. Na verdade, o trecho viral junta duas intervenções distintas. A primeira foi feita pelo candidato no distrito de Chitima, na província de Tete. Essa é a passagem que refere que se "ganhar eleições, aqui em Chitima”. A segunda parte, feita num outro local, refere que “cada pessoa vai ter em casa avião dele e aeroporto dele”. Na verdade, esta última passagem foi extraída de uma crítica feita por Daniel Chapo contra “falsas promessas” da oposição. É comum o candidato da Frelimo criticar, nos seus comícios populares, as promessas da oposição. Num comício em Mecanhelas, província do Niassa, por exemplo, Daniel Chapo afirma que "nós não podemos aceitar que venha alguém mentir ao povo, aqui em Mecanhelas. Chegam a dizer até que, caso ganharem eleições, aqui em Mecanhelas, cada pessoa vai ter um avião, com aeroporto dele em casa". Aliás, por falar de manipulação, não é por acaso que, no vídeo manipulado, apenas se mostra o rosto de Daniel Chapo quando diz “ganhar eleições, aqui em Chitima”. Na parte final, onde é feita a alegada promessa de avião e aeroporto individuais, os manipulares do vídeo decidiram omitir o rosto do candidato da Frelimo, eventualmente para não exporem possíveis distorções entre as expressões verbal e gestual, possíveis de detectar neste tipo de montagens.
A ALEGAÇÃO
Desde o dia 18 deste mês que uma declaração atribuída ao candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo, tem agitado o país. Num curto vídeo, de 29 segundos, ouve-se Chapo a dizer: “…hospital é da Frelimo; quando [a pessoa] fica doente, vai ao hospital da Frelimo; medicamento é da Frelimo. [Mas] quando [essa mesma pessoa] cura, diz que Frelimo não fez nada (...)”. Estas declarações geraram uma onda de críticas contra o candidato presidencial da Frelimo, acusado de confundir o Estado e a Frelimo, uma vez que os hospitais e os medicamentos (tal como as escolas e outras infra-estruturas públicas) não são propriedade da Frelimo, mas bens públicos, de acesso universal e sustentados pelos impostos dos moçambicanos e não dos membros da Frelimo. No entanto, após a repercussão negativa destas afirmações, começaram a circular alegações, sobretudo movidas pela máquina de propaganda do partido Frelimo e seus apoiantes, sugerindo que o vídeo tenha sido manipulado. Outras alegações deram conta de o vídeo ter até sido criado com recurso à Inteligência Artificial (IA). Tudo para difamar o candidato Daniel Chapo, insinuavam as alegações.
OS FACTOS
Entretanto, estas declarações de Daniel Chapo são autênticas. O vídeo em questão é um trecho de uma intervenção do candidato da Frelimo, num comício popular realizado no dia 18 de Setembro corrente, no distrito de Monapo, província de Nampula. O MisaCheck procurou rastrear o vídeo original da declaração, mas, diferentemente de outros, não consta nas plataformas de comunicação usadas pela Frelimo para a transmissão e divulgação das actividades de campanha. No entanto, o MisaCheck ouviu diferentes jornalistas que estão a acompanhar o candidato presidencial da Frelimo na sua campanha, que confirmaram a veracidade do vídeo, incluindo as declarações do candidato presidencial da Frelimo. Adicionalmente, vários órgãos de comunicação social, como a DW, Macua blog e o semanário Ponto por Ponto, também publicaram reportagens confirmando o contexto e a autenticidade das falas de Daniel Chapo durante o comício.
A ALEGAÇÃO
Desde o início de Setembro corrente que tem circulado, nas redes sociais digitais, uma fotografia do secretário-geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM, braço juvenil do partido Frelimo), Silva Livone, juntamente com mais três jovens vestidos de camisetas de campanha do partido no poder, alegadamente a apoiarem a oposição. Na imagem, todos acenam três dedos de uma das mãos, num claro apelo ao voto para número três. A imagem está a ser usada como um flagrante episódio de que, por detrás do “politicamente correcto”, até membros da Frelimo, afinal apoiam a candidatura de Venâncio Mondlane, o candidato presidencial do Podemos que, no sorteio feito pelo Conselho Constitucional em Junho último, ficou na terceira posição dos boletins de voto, atrás de Lutero Simango (MDM), na posição 1, Daniel Chapo (Frelimo), posição 2, e a frente de Ossufo Momade (Renamo), posição 4. As legendas à imagem em causa incluem frases como "Os camaradas também estão com VM7" e o “secretário-geral da OJM e seus pares dizem sim ao Venâncio MONDLANE (3) e PODEMOS (17)”.
Uma página do Facebook, com o nome e logotipo do Podemos, o partido que suporta Venâncio Mondlane, também refere que "Podes usar essa camisa, o importante é saber o PIN certo que é 3".
OS FACTOS
Embora a imagem em causa seja autêntica, o seu contexto está completamente manipulado. De facto, a imagem em que o SG da Frelimo e mais três jovens acenam a mão com três dedos em apelo de voto para o número três não tem qualquer relação com a campanha para as eleições deste ano, 2024. A imagem tem a ver, isso sim, com as eleições autárquicas de 2023, quando a Frelimo era o número 3 nos boletins de voto. A imagem foi, sim, feita em 2023, quando o partido Frelimo ocupava a posição número 3 no boletim de voto, o que justifica o gesto dos três dedos. Ao Misacheck, o SG da OJM, Silva Livone, confirmou que a foto é das eleições autárquicas de 2023 e não deste ano. “É do ano passado, nas autárquicas, onde a Frelimo era número 3”, disse-nos Livone, acrescentando que “neste tempo de campanha, há muita manipulação”. Ainda a afastar qualquer ligação com a posição, o SG da OJM terminou com o "Vamos Trabalhar", o slogan do candidato presidencial da Frelimo nas eleições deste ano, Daniel Chapo.
A ALEGAÇÃO
Um vídeo chocante, com massacres de civis por militares com recurso de armas de fogo, inundou as plataformas digitais, nos últimos dias, dando conta de “chacina de cristãos, pelo Estado Islâmico na África Central (divisão administrativa do EI)”, em Cabo Delgado, Norte de Moçambique. Dezenas de corpos que parecem ser de garimpeiros artesanais estão estatelados numa extensa vala, enquanto homens armados disparam tiros de forma incessante e gritando “Allahu Akbar” (Deus é grande), um hino de grupos extremistas. A alegação diz se tratar de Cabo Delgado, palco de uma guerra extremista há cerca de sete anos, é acompanhada por questionamentos sobre o silêncio do mundo perante os massacres. Um internauta chega a lamentar pelo silêncio das Nações Unidas e do respectivo secretário-geral, António Guterres.
OS FACTOS
O vídeo em causa é real, mas o seu contexto está deturpado. De facto, o vídeo não retrata acontecimentos de Cabo Delgado, nem de Moçambique. Pelo contrário, é um vídeo de Burkina Fasso. O mesmo retrata um massacre realizado por um grupo jihadista conhecido como Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliado à Al-Qaeda. O grupo matou mais de 400 civis, obrigando-os a deitar-se uns sobre os outros em trincheiras para tentar se proteger, conforme se pode verificar numa das passagens do vídeo (atenção que é sensível), disponível aqui. Aliás, não é a primeira vez que este vídeo é divulgado de forma deturpada. O mesmo já foi usado para descrever um suposto massacre cometido pela Milícia de Apoio Rápido, em Darfur, no Oeste do Sudão, onde, alegadamente, o grupo extremista terá executado mais de 700 civis desarmados, acusados de espionagem e de fornecer coordenadas para ataques aéreos do exército sudanês. No entanto, após um exercício de verificação, constatou-se que o vídeo em questão não tem qualquer ligação com o conflito actual no Sudão, como se pode ver aqui.
A ALEGACÃO
Está a circular, nas redes sociais da internet, uma informação dando conta que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) decidiu que, para evitar fraudes, os eleitores que votam na Renamo e no seu candidato presidencial, Ossufo Momade, votarão num dia separado, no caso a 10 de Outubro. Além disso, a alegacão afirma que os votos para a Renamo serão colocados em urnas especiais, distintas das usadas para outros partidos.
OS FACTOS
Entretanto, esta alegação é completamente falsa. Não há nenhuma decisão tomada pela CNE de separar a votação de acordo com o partido ou candidato. As eleições gerais de 2024, que incluem as eleições presidenciais, legislativas, e para as assembleias provinciais e governadores de província, continuam marcadas oficialmente não para o dia 10 de Outubro, mas sim para o dia 9 de Outubro de 2024, conforme convocado pelo presidente da República. Por outro lado, a alegação de que os votos para a Renamo serão depositados em urnas especiais é, igualmente, falsa. O sistema eleitoral moçambicano adopta um modelo de urnas comuns para todos os partidos e candidatos. Não existe qualquer provisionamento ou previsão legal de urnas diferenciadas para qualquer partido específico. Finalmente, não há registo de qualquer decisão ou pronunciamento público da CNE sobre matéria desta natureza. A última publicação da CNE, na sua página oficial no Facebook, data do dia 12 de Setembro corrente e trata do lançamento da formação de candidatos para formadores de Membros de Mesas de Voto (MMVs), sem qualquer menção a mudanças no cronograma eleitoral.
A ALEGAÇÃO
Circula, pelo menos desde a semana passada, nas redes sociais digitais, uma informação sugerindo que o antigo bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), Tomás Timbane, teria retirado o seu apoio à candidatura de Venâncio Mondlane. Segundo a alegação, Tomás Timbane teria feito uma publicação na sua página oficial do Facebook, anunciando que o seu trabalho como voluntário pela cidadania com o candidato agora apoiado pelo partido Podemos chegou ao fim. A informação tornou-se viral nas plataformas digitais, sobretudo no Facebook e no WhatsApp, ganhando ainda mais força após o partido Renamo ter dado destaque ao assunto, publicando, na edição 349, de 12 de Setembro, do seu boletim “A Perdiz”, um artigo que é atribuído ao antigo bastonário da OAM. Na publicação, a Renamo, o partido que Venâncio Mondlane abandonou este ano, sugere que a alegada retirada de apoio de Tomás Timbane indica possíveis rixas internas na campanha de Venâncio Mondlane, o que gerou ainda mais especulações e reações online. “O antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Tomás Tibana, atirou a ‘toalha ao chão’ no apoio ao Venâncio Mondlane, leia na íntegra a carta por ele publicada esta semana na sua conta oficial Facebook”, indica a “Perdiz”.
OS FACTOS
Entretanto, a alegação de que o antigo bastonário da OAM retirou o seu apoio a Venâncio Mondlane não corresponde à verdade. Na verdade, trata-se de uma informação enganosa que, provavelmente, assenta sobre a proximidade de nomes entre o advogado Tomás Timbane e o economista Roberto Tibana. Na verdade, quem endossou e depois retirou o seu apoio a Venâncio Mondlane é o economista Roberto Tibana e não o advogado Tomás Timbane. Com efeito, a carta que foi largamente atribuída a Tomás Timbane pertence, de facto, a Roberto Tibana, conforme se pode constatar aqui. Aliás, mesmo nas publicações que são atribuídas a Tomás Timbane, nota-se uma contradição nos elementos constitutivos da informação. A fotografia usada em várias publicações, por exemplo, é do economista Tibana e não do advogado Timbane. Igualmente, as publicações sobre esta alegação juntam o primeiro nome do advogado e o último do economista, ficando “Tomás Tibana”, conforme se pode ver aqui.
A ALEGAÇÃO
Desde a primeira semana do mês em curso que circula, nas redes sociais digitais, uma informação alegando que o ex-presidente da República, Joaquim Chissano, teria afirmado que Venâncio Mondlane é o primeiro moçambicano a dar “dor de cabeça” ao partido Frelimo. Segundo a alegação, Joaquim Chissano teria declarado, numa recente declaração aos media, que Venâncio Mondlane tem se mostrado um jovem extremamente inteligente e dedicado, o que tem causado preocupações no seio do partido no poder e que a sua actuação política e capacidade estratégica têm colocado desafios inéditos à Frelimo, consolidando sua posição como uma figura de destaque no cenário político nacional. A informação tornou-se, em pouco tempo, viral nas plataformas digitais, principalmente o Facebook e o WhatsApp. Numa das publicações, um dos principais apoiantes e advogado de Venâncio Mondlane reage indicando que “ainda é cedo”. Numa outra publicação, o alegado pronunciamento de Joaquim Chissano é associado a uma alegada falta de “espírito de liderança” do candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo.
OS FACTOS
Entretanto, estes pronunciamentos são totalmente falsos. Não há nenhuma afirmação desta natureza que tenha sido feita pelo antigo presidente da República. Pelo contrário, Joaquim Chissano expressou, publicamente, o seu total apoio ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo. Aliás, o Credível também verificou a alegacão e chegou à conclusão de ser falsa. Como se não bastasse, uma verificação minuciosa da alegação permite concluir que a data da sua publicação é de 09 de Maio de 2024, o que é inconsistente com a ligação que é feita de Venâncio Mondlane ao partido Podemos, visto que nessa altura o candidato presidencial ainda era membro da Renamo. Por outro lado, a imagem de Joaquim Chissano usada na alegação é relativa a uma declaração feita pelo antigo presidente em Outubro de 2023, momentos após exercer o seu direito de voto nas eleições autárquicas do ano passado.
Refira-se que esta não é a primeira vez que um membro sénior do partido Frelimo é associado a um suposto apoio ao candidato presidencial Venâncio Mondlane. No mês passado, foi Graça Machel, a antiga primeira-dama de Moçambique, falsamente citada a referir que “Venâncio Mondlane é o único sério” candidato presencial nas eleições deste ano. A informação também se tornou viral nas redes sociais digitais e Graça Machel viu-se obrigada a vir ao público para desmentir a alegação. Mais tarde, a esposa do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, também fez um vídeo a declarar apoio ao candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo.
A ALEGAÇÃO
Desde o dia 16 de Agosto último que cirulam, nas redes sociais da internet, especialmente na plataforma X (ex-Twitter), uma informação dando conta de que o ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, foi condenado a 20 anos de prisão por envolvimento em fraude eletrónica e um esquema de branqueamento de capitais no valor de 2 mil milhões de dólares, destinado a investidores norte-americanos. Esta alegação rapidamente ganhou atenção, gerando debates entre vários internautas.
OS FACTOS
Manuel Chang foi, sim, considerado culpado, mas não foi condenado a 20 anos de prisão. O ex-ministro das Finanças de Moçambique foi julgado durante quatro semanas num tribunal federal em Brooklyn, Nova Iorque. No dia 8 de Agosto, Manuel Chang foi considerado culpado no âmbito do caso conhecido como "dívidas ocultas" de Moçambique, um escândalo financeiro que envolveu empréstimos fraudulentos totalizando 2 mil milhões de dólares. No entanto, sua pena ainda não foi anunciada. De facto, embora Manuel Chang incorra numa pena que pode ir até 20 anos de prisão, de acordo com o comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, ele ainda aguarda pela decisão final sobre que pena deverá cumprir.