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terça-feira, 24 setembro 2024 13:28

Vídeo retratando massacre de civis não é de Cabo Delgado

manipulado

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A ALEGAÇÃO

Um vídeo chocante, com massacres de civis por militares com recurso de armas de fogo, inundou as plataformas digitais, nos últimos dias, dando conta de “chacina de cristãos, pelo Estado Islâmico na África Central (divisão administrativa do EI)”, em Cabo Delgado, Norte de Moçambique. Dezenas de corpos que parecem ser de garimpeiros artesanais estão estatelados numa extensa vala, enquanto homens armados disparam tiros de forma incessante e gritando “Allahu Akbar” (Deus é grande), um hino de grupos extremistas. A alegação diz se tratar de Cabo Delgado, palco de uma guerra extremista há cerca de sete anos, é acompanhada por questionamentos sobre o silêncio do mundo perante os massacres. Um internauta chega a lamentar pelo silêncio das Nações Unidas e do respectivo secretário-geral, António Guterres.

 

OS FACTOS

O vídeo em causa é real, mas o seu contexto está deturpado. De facto, o vídeo não retrata acontecimentos de Cabo Delgado, nem de Moçambique. Pelo contrário, é um vídeo de Burkina Fasso. O mesmo retrata um massacre realizado por um grupo jihadista conhecido como Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), afiliado à Al-Qaeda. O grupo matou mais de 400 civis, obrigando-os a deitar-se uns sobre os outros em trincheiras para tentar se proteger, conforme se pode verificar numa das passagens do vídeo (atenção que é sensível), disponível aqui. Aliás, não é a primeira vez que este vídeo é divulgado de forma deturpada. O mesmo já foi usado para descrever um suposto massacre cometido pela Milícia de Apoio Rápido, em Darfur, no Oeste do Sudão, onde, alegadamente, o grupo extremista terá executado mais de 700 civis desarmados, acusados de espionagem e de fornecer coordenadas para ataques aéreos do exército sudanês. No entanto, após um exercício de verificação, constatou-se que o vídeo em questão não tem qualquer ligação com o conflito actual no Sudão, como se pode ver aqui.